segunda-feira, 18 de agosto de 2003

É impressionante o que se diz de besteira quando o tema é estatística. Pra dar uma idéia ao leitor, semana passada ouvi um repórter da CBN entrevistar uma figura responsável pela a colocação, no estado do Rio, de placas de sinalização de trânsito que serão mais fáceis de se ler do que as atuais. A idéia é facilitar a vida dos turistas pra evitar, por exemplo, que eles tomem a saída da Linha Vermelha que leva ao Complexo da Maré. O entrevistado justificou a iniciativa com uma pesquisa de turistas internacionais, feita no Rio, onde os turistas indicavam que a sujeira, o precário transporte público e a má sinalização eram problemas maiores do que a violência. O repórter achou bizarro a violência vir em quarto lugar, mas não questionou a pesquisa.

Ora, é claro que essa pesquisa tem um enorme problema: uma amostragem extremamente tendenciosa. O sujeito que faz turismo numa das cidades mais violentas do mundo é por definição alguém que, por uma razão ou outra, menospreza o problema da violência. O ideal seria entrevistar potenciais turistas como um todo. O Rio perde milhares de turistas por ano por causa da violência e não por causa da má sinalização do trânsito.

O mais triste dessa história é que os estudos brasileiros suportando o desarmamento civil sofrem de falhas idênticas. Será que algum pesquisador do Viva Rio ou delegado metido a estatístico vai pegar uma cópia do "More Guns, Less Crime" pra evitar esse tipo de falha numa pesquisa criminalística? Tenha a certeza absoluta de que não. Mesmo que ele ou ela quisesse, a pessoa seria demitida imediatamente.

domingo, 17 de agosto de 2003

Neste final de semana o programa Espaço Aberto com o Alexandre Garcia, da Globo News, chamou o secretário nacional de segurança, Luis Eduardo Soares, e o sociólogo Artur Trindade (professor do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília) para "debater" o uso, o comércio e o porte de armas no Brasil. Eu não estou brincando--a Globo chamou esse programa de "debate". Um nome melhor seria 'piada'. Pro leitor sentir o nível do atual secretário nacional de segurança, o programa começou com o Alexandre Garcia tendo de explicar pro cara a definição correta do termo 'armas leves'. Depois foi aquela ladainha de estatísticas que caem em dois grupos: as falsas e as irrelevantes. Agora, a Globo conseguir chamar isso de debate foi o melhor exemplo de que a última coisa que essa turma quer é debater qualquer coisa. Pra manter o nível a Globo deveria chamar o KIM Chong-il e o Fidel Castro pra um debate sobre liberdade de expressão.