terça-feira, 14 de junho de 2005

Impunidade e "Justiça Social"

Sou um dos que não acredita nessa história de que a raiz da atual violência fora de controle é a "injustiça social". Qualquer que seja a forma de medir tal injustiça, essa medida não disparou nos últimos 10-15 anos. Mas a violência disparou. O que mudou é que após a abertura democrática houve um aumento alucinado da impunidade. Nossos políticos pós-ditadura simplesmente não acreditam que lugar de bandido é debaixo do chão ou na cadeia. Por conseqüência os menores de idade hoje têm licença para matar, enquanto os maiores de idade têm de caprichar na barbárie para acabarem presos. Nossos governos se metem em milhares de detalhes de nossas vidas, mas cuidar de prisão, não é com eles. Você já ouviu um político falar em construir mais prisões para meramente aplicar as leis existentes? Não, o necessário é "investir no social", e enquanto isso os bandidos ficam soltos. Há três conseqüências dessa atitude. Uma, claro, é o aumento da impunidade. A segunda é que como os bandidos andam soltos, nós, as vítimas, que acabamos trancados. Nossas casas e prédios se tornaram verdadeiras fortalezas. A terceira conseqüência é a justiça feita nas ruas, pelas vítimas que capturam os bandidos e pela polícia, para "compensar" o fato de que a punição oficial inexiste. Desnecessário lembrar que essa justiça popular freqüentemente é bem pior que o crime cometido, fora outros problemas que ela gera. Mas nossas elites não estão nem aí. O que interessa para elas é esperar a chegada da "justiça social" para resolver tudo, independente do nível de barbárie presente. Percebe-se que não há mais um limite de tolerância para a atitude dos bandidos. Na noite do natal passado, bandidos da Rocinha promoveram um show de balas traçantes sobre a favela, e no dia seguinte saiu só uma pequena nota na página 15 do maior jornal do Rio. E a polícia na nota negava qualquer confronto, o que é infelizmente verdade pois ninguém confrontou os atiradores. Nossas elites preferem brincar de roleta russa a abandonar a crença da salvação da justiça social.